Ensino de Comportamentos Pré-Requisito do Empatizar para Crianças Autistas: uma Revisão de Escopo

Sanches, Poliana Fernandes Mesquita; Eiterer, Patricia; Souza, Silvia Regina de

doi:10.1590/1980-54702024v30e0098

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Revista Brasileira de Educação Especial

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Revisão de Literatura • Rev. bras. educ. espec. 30 • 2024 • https://doi.org/10.1590/1980-54702024v30e0098 copiar

Ensino de Comportamentos Pré-Requisito do Empatizar para Crianças Autistas: uma Revisão de Escopo² 2 O presente trabalho foi realizado com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – Brasil (02/2021) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (Capes) – Código de Financiamento 001.

Teaching Pre-Requisite Behaviors of Empathizing for Autistic Children: a Scope Review

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

RESUMO:

Este estudo objetivou identificar, sistematizar e avaliar quais estratégias têm sido utilizadas na Análise do Comportamento para o ensino de comportamentos pré-requisito do empatizar a crianças diagnosticadas com autismo. Para isso, realizaram-se as seguintes etapas: definição das palavras-chave e das bases de dados; estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão dos artigos; busca e seleção de artigos; e análise de dados que consistiu na análise da qualidade individual e geral dos artigos e na sistematização e análise de dados dos artigos (e.g., ano de publicação, procedimento empregado etc.). Foram selecionados 11 artigos para análise. Em todos os artigos, houve o ensino de uma ou mais respostas empáticas, mas apenas dois deles utilizaram a terminologia “empatia” na descrição do objetivo. A falta de consenso na definição do termo dificulta que textos sobre empatia sejam encontrados. Quanto à qualidade dos artigos recuperados, ela foi avaliada como alta. Diante da importância do tema, sugere-se que estudos futuros realizem buscas mais abrangentes sobre o ensino do empatizar para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

PALAVRAS-CHAVE:
Empatia; Autismo; Transtorno do Espectro Autista; Revisão de escopo; Habilidades sociais

Artigo	Critério de exclusão
Belisle, J., Dixon, M. R., Stanley, C. R., Munoz, B., & Daar, J. H. (2016). Teaching foundational perspective-taking skills to children with autism using the PEAK-T curriculum: single-reversal “I–You” deictic frames. Journal of Applied Behavior Analysis, 49(4), 965-969.	Ensino de um pré-requisito indireto do empatizar.
Lee, G. T., Xu, S., Feng, H., Lee, G. K., Jin, S., Li, D., & Zhu, S. (2019). An emotional skills intervention for elementary children with autism in China: a pilot study. Journal of Rational-Emotive & Cognitive-Behavior Therapy, 37(2), 113-132.	Avaliação de uma ferramenta cognitiva e não analítico-comportamental.
Ribeiro, F. A. A., Pereira, Á. I. S., de Sousa Freitas, M., & Nascimento, D. K. P. (2020). Gamifying the teaching of facial expressions for children with autistic spectrum disorder. Revista EDaPECI, 20(1), 66-77.	Apresentação de um jogo e não o ensino das habilidades do empatizar às crianças autistas.
Yun, S. S., Kim, H., Choi, J., & Park, S. K. (2016). A robot-assisted behavioral intervention system for children with autism spectrum disorders. Elsevier, 76, 58-67.	Avaliação da viabilidade do uso de robôs e não o ensino de habilidades do empatizar.

ID	Referência
1	Argott, P. J., Townsend, D. B., & Poulson, C. L. (2017)Argott, P. J., Townsend, D. B., & Poulson, C. L. (2017). Acquisition and generalization of complex empathetic responses among children with Autism. Behavior Analysis in Practice, 10(2), 107-117. https://doi.org/10.1007/s40617-016-0171-7 https://doi.org/10.1007/s40617-016-0171-... . Acquisition and generalization of complex empathetic responses among children with autism. Journal of Autism and Developmental Disorders, 10(2), 107-117.
2	Najdowski, A. C., Bergstrom, R., Tarbox, J., & St Clair, M. (2017). Teaching children with autism to respond to disguised mands. Journal of Applied Behavior Analysis, 50(4), 733-743.
3	Najdowski, A. C., St Clair, M., Fullen, J. A., Child, A., Persicke, A., & Tarbox, J. (2018). Teaching children with autism to identify and respond appropriately to the preferences of others during play. Journal of Applied Behavior Analysis, 51(4), 890-898.
4	Ng, A. H. S., Schulze, K., Rudrud, E., & Leaf, J. B. (2016). Using the teaching interactions procedure to teach social skills to children with autism and intellectual disability. American Journal on Intellectual and Developmental Disabilities, 121(6), 501-519.
5	Sivaraman, M. (2017). Using multiple exemplar training to teach empathy skills to children with autism. Behavior Analysis Practice,10(4), 337-346.
6	Sosnowski, D. W., Stough, C. O., Weiss, M. J., Cessna, T., Casale, A., Foran, A., Erwinski, M., Wilson, J., Farber, S. A., & Farber, M. A. (2021) Brief report: a novel digital therapeutic that combines applied behavior analysis with gaze-contingent eye tracking to improve emotion recognition in children with Autism Spectrum Disorder. Journal of Autism and Developmental Disorders, 52(5), 2357-2366.
7	Voss, C., Schwartz, J., Daniels, J., Kline, A., Haber, N., Washington, P. , Tariq, Q., Robinson, T. N., Desai, M., Phillips, J. M., Feinstein, C., Winograd, T., & Wall, D. P. (2019). Effect of wearable digital intervention for improving socialization in children with Autism Spectrum Disorder: a randomized clinical trial. JAMA Pediatrics, 173(5), 446-454.
8	Welsh, F. , Najdowski, A. C., Strauss, D., Gallegos, L., & Fullen, J. A. (2019). Teaching a perspective-taking component skill to children with autism in the natural environment. Journal of Applied Behavior Analysis, 52(2), 439-450.
9	Almeida, L. M., Silva, D. P. , Theodório, D. P. , Silva, W. W., Rodrigues, S. C. M., Scardovelli, T. A., Silva, A. P. , & Bissaco, M. A. S. (2019). ALTRIRAS: a computer game for training children with Autism Spectrum Disorder in the recognition of basic emotions. International Journal of Computer Games Technology, 2019(1), 1-16.
10	Fatima, S., Sultan, S., Jenson, W. R., Davis, J. L., Radley, K. C., & Naintara (2021). Superheroes social skills program: A replication with children with autism spectrum disorder in Pakistan. International Journal of School & Educational Psychology, 9, 1-12.
11	Yun, S., Choi, J., Park, S., Bong, G., & Yoo, H. (2017). Social skills training for children with Autism Spectrum Disorder using a robotic behavioral intervention system. International Society for Autism Research, 10(7), 1306-1323.

ID	Revista	Nome dado à classe de comportamentos ensinados	Participantes		Delineamento
ID	Revista	Nome dado à classe de comportamentos ensinados	Quantidade	Faixa etária (anos)	Delineamento
1	Autism and Developmental Disorders	Respostas empáticas complexas	4	10-12	LB múltipla entre comportamentos
2	Applied Behavior Analysis	Responder apropriadamente ao mando disfarçado	3	9-13	LB múltipla entre participantes
3	Applied Behavior Analysis	Identificar e responder apropriadamente às preferências do outro durante a brincadeira	3	5-8	LB múltipla entre participantes
4	American Journal on Intellectual and Developmental Disabilities	Habilidades sociais	4	9-15	LB múltipla entre comportamentos e participantes
5	Behavior Analysis Practice	Habilidades de empatia	2	5 anos e 2 meses - 5 anos e 8 meses	LB múltipla entre comportamentos
6	Autism and Developmental Disorders	Reconhecimento de emoções	54	4-14	Grupo
7	JAMA Pediatrics	Socialização	71	6-12	Grupo
8	Applied Behavior Analysis	Tomada de perspectiva	3	4-8	LB múltipla entre participantes
9	International Journal of Computer Games Technology	Reconhecimento de emoções básicas	40 (10 TEA)	3-13	Grupo
10	International Journal of School & Educational Psychology	Engajamento social	4	8-9	AB
11	Autism Research	Contato visual e reconhecimento de emoções	15	4-7	Grupo

ID	Estratégias de ensino (Variável independente)	Resultados
1	Programa de intervenção baseado em princípios comportamentais: sequência de prompts (modelagem usando vídeo, modelagem in vivo, ajuda física e instruções) e reforço para ensino de respostas empáticas complexas.	O número de respostas empáticas complexas aumentou com a introdução sucessiva do pacote de intervenção. A generalização foi demonstrada (estímulos não ensinados e outro adulto). A resposta manteve-se ao longo do tempo em graus variados para todos os participantes.
2	Programa de intervenção baseado em princípios comportamentais: treino de múltiplos exemplares (regras, dramatização e feedback) para ensino de mandos disfarçados.	Aumento na porcentagem de respostas corretas a mandos disfarçados. Houve generalização para novos mandos disfarçados e novas pessoas.
3	Programa de intervenção baseado em princípios comportamentais: regras, dicas e feedback para identificar e responder apropriadamente às preferências do outro durante a brincadeira.	Aumento na porcentagem de respostas corretas de identificar as preferências de adultos e colegas durante atividades lúdicas e de oferecer brinquedos apropriados durante os períodos de brincadeira. Houve generalização dos comportamentos aprendidos para condições nas quais havia novos parceiros de jogo.
4	Programa de intervenção baseado em princípios comportamentais: Programa de Ensino de Interações para o ensino de habilidades sociais.	Aquisição de habilidades sociais específicas por todos os participantes. Houve manutenção dessas habilidades sociais específicas e generalização para outros pares da mesma idade.
5	Programa de intervenção baseado em princípios comportamentais: treino de múltiplos exemplares, atraso imediato e reforço para ensino de habilidades de empatia.	Aumento na porcentagem de respostas empáticas com a introdução do tratamento em cada categoria para ambos os participantes. Houve generalização das respostas empáticas para estímulos não treinados e manutenção nos testes de follow up.
6	Videogame digital Lookware™: Terapêutica digital baseada em videogame (prompts auditivos e visuais) para ensino de reconhecimento de emoções.	Os participantes na condição de intervenção demonstraram aumentos significativos (mudança de aproximadamente 25%) no reconhecimento de emoções em suas pontuações Ekman-60 (Ekman, 1976Ekman, P. (1976). Pictures of facial affect. Consulting Psychologists Press.) do pré para o pós-intervenção. Não houve evidência de mudança entre os participantes na condição de controle.
7	Intervenção Superpower Glass (Google Glass e aplicativo): detecção de expressões faciais e fornecimento de dicas sociais de reforço para ensino de socialização.	As crianças que receberam a intervenção mostraram melhorias significativas na subescala de socialização (Escala de Comportamentos Adaptativos de Vineland) em comparação com o tratamento como controles habituais. Efeitos positivos do tratamento também foram encontrados para as outras três medidas primárias nas escalas SRS-II, NEPSY-II e Emotion Guessing Game (EGG), mas não para um limite de significância.
8	Programa de intervenção baseado em princípios comportamentais: treino de múltiplos exemplares, correção de erros e reforço para ensino de tomada de perspectiva.	Houve aumento na porcentagem do comportamento de tatear o que os outros podiam ver, provar, sentir, ouvir e cheirar. Foi observada generalização em pessoas não treinadas no pós-treinamento e manutenção do comportamento ao longo do tempo.
9	Jogo de dramatização (RPG): “ALTRIRAS” para o ensino de reconhecimento de emoções.	Não houve diferença significativa entre o número de acertos das crianças no reconhecimento de emoções antes e depois do período de intervenção com o jogo ALTRIRAS.
10	Programa SuperHeroes Social Skills (regras, introdução da nova habilidade, modelos de vídeo, dramatização, narrativa social animada e jogo) para o ensino de engajamento social.	Houve um aumento médio na iniciação social de 15% na linha de base para 25% durante a intervenção. As respostas sociais foram observadas durante uma média de 21% na linha de base, aumentando para 34% durante a intervenção. Houve generalização do envolvimento social para um novo ambiente.
11	Programa de intervenção comportamental robótica assistida, baseada no protocolo de ensino de tentativas discretas para ensino de contato visual e reconhecimento de emoções.	Houve aumento significativo na porcentagem contato visual e reconhecimento de emoções, principalmente nas primeiras sessões.

Pontuação obtida por estudo em cada princípio de avaliação em relação à pontuação máxima possível
ID	Enquadramento conceitual	Abertura e transparência	Robustez	Adequação Cultural	Validade	Confiabilidade	Convincência	Total
1	6/6	4/8	6/6	3/4	8/8	4/4	4/4	21,42/24 (89,25%)
2	6/6	4/8	6/6	3/4	6/8	4/4	4/4	20,57/24 (85,70%)
3	6/6	4/8	5/6	3/4	8/8	4/4	4/4	20,85/24 (86,87%)
4	6/6	8/8	6/6	4/4	7/8	4/4	4/4	23,57/24 (98,20%)
5	6/6	6/8	5/6	3/4	7/8	4/4	4/4	21,28/24 (88,66%)
6	6/6	6/8	6/6	2/4	6/8	2/4	4/4	18,85/24 (78,54%)
7	4/6	6/8	6/6	2/4	6/8	2/4	4/4	17,71/24 (73,79%)
8	6/6	4/8	6/6	3/4	7/8	4/4	4/4	21/24 (87,5%)
9	6/6	8/8	5/6	2/4	4/8	2/4	4/4	18,28/24 (76,16%)
10	6/6	6/8	6/6	0/4	7/8	4/4	4/4	19,28/24 (80,33%)
11	6/6	5/8	5/6	3/4	6/8	2/4	1/4	16,14/24 (67,25%)
Total	5,81/6 (96,83%)	5,54/8 (69,25%)	5,63/6 (93,83%)	2,54/4 (63,50%)	6,54/8 (81,75%)	3,27/4 (81,75%)	3,72/4 (93%)

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[TFN1] Nota: LB corresponde à Linha de Base; e AB corresponde a um delineamento quase-experimental com duas condições, sendo A a linha de base e B a intervenção.